quarta-feira, abril 04, 2007

O direito à incomunicabilidade

Hoje de manhã fui ao dentista e, por razões óbvias, não podia atender o telefone. Desliguei o aparelhinho para não me chatear com o apito.
Nos minutos que se seguiram a tê-lo ligado de novo, tive que aturar a estranheza de três interlocutores por me terem ligado em vão. Um deles teve mesmo a lata de me perguntar porque é que eu tinha desligado o telemóvel. Respondi-lhe que foi porque me apeteceu e que ele não tinha rigorosamente nada a ver com isso.
Perdemos o direito à incomunicabilidade, que é tão sagrado como a liberdade ou a busca da felicidade (aliás, faz parte delas).
Por mim, quero-o de volta. Fica aqui dito que, se me ligarem, pode ser que me apanhem ou não.
E se ninguém vos telefonar, já sabem que sou eu.

8 comentários:

Anónimo disse...

bem me queria parecer, q tinhas sido tu q não telefonaste, é q o nr era privado e eu não sabia quem era... :))))

e faz favor de na dizeres mal dos aparelhinhos q me estragas o negócio e não sei se o "tio" Belmiro me arranja outro "tacho", ehehehehehe

(mas q chateia, lá isso...
principalmente qd o telemóvel toca na altura mais imprópria que se possa imaginar, é q não há coração que aguente, ihihihihihih)

Anónimo disse...

é por estas e por outras que não tenho telemóvel. devo ser o único portugues sem telemóvel. acabei com ele há uns anos. quem quer telefone para casa ou para o emprego. se não estou esperam... ou deixam mensagem. Porque vistas bens as coisas nada é tao urgente como o nosso sossego:)

Anónimo disse...

Como eu te compreendo, Mouro. Esta coisa de se estar comunicável permanentemente deve ter provocado alterações cognitivas muito beras nas mentes de todos nós mas eles, os outros, os chatos comá potassa(o que é potassa?) ficaram completamente apanhados do clima (tropical. Acham-se donos de cada minutinho, de cada espacinho da nossa vida e sentem-se literalmente roubados quando não nos caçam via telemóvel. É uma invasão grotesca do paraíso a que temos direito, ou do inferno, pouco importa o que se está a sentir quando aquilo grunhe. É um controle sem tréguas e o fim daquela deliciosa certeza: "agora ninguém me chateia". É. Porque se não chateiam no momento, chateiam mais tarde. Antes, podia-se deixar o telefone fixo tocar 20 vezes,não atender e dizer no dia a seguir, com o ar mais plácido do mundo, "pois, não estava em casa, cheguei tarde". Mas experimentem lá deixar o telemóvel tocar 3 vezes seguidas sem atenderem e verão os insultos e desconfianças que vos são atirados à cara. Pois. Desligar o telemóvel é apenas adiar o inevitável e ainda por cima há aquelas mensagens de voz infindáveis que dão vontade de afinal não ter desligado aquilo para ter mandado à merda o interlocutor e posto fim à verborreia. Como se não bastasse, temos ainda as sms inúteis do género " n percebo p k tens tlm se n usas". Eu uso, até uso, mas geralmente é para pregar mentiras para ver se os outros não o usam: "vou passar o fds à Groenlândia, se me ligares és tu que pagas". Nem assim. Perante a perspectiva de ter o aparelhómetro colado ao ouvido durante umas horas, o que interessa o dinheiro?

Outra coisa que me irrita é que esta obsessão telemovelesca exacerbou a característica portuguesa do atrasanço que, se antes já era vivido sem culpa, agora é vivido com absoluta displicência. Marca-se para as 4, sai-se de casa às 5 e prontos, é simples, manda-se uma sms "dsclp, atrasado, xego 6 Bjk".
Ah...e os comboios? Antigamente locais de sossego e desprendimento da alma, tornaram-se nos últimos anos sítios de horror com a musiquinha de fundo a trocidar-nos os ouvidos e sobre ela, a vida dos outros, berrada ao telemóvel, a entrar-nos pelos tímpanos sem pedir licença. Ambas as coisas são actos terroristas que deviam ser punidos.Eu acho.

Chega, está na hora de ir desligar o bicho. Amanhã quando o ligar serão pelo menos 10 minutos de plim plins irritantes a avisar que tenho 10 chamadas não atendidas, 5 mensagens de voz e 20 sms. No mínimo. O que vale é que amanhã é sexta-feira e santa, ainda por cima. Não é nesta altura que não se come carne? Viro crente e praticante se a igreja começar a mandar para o inferno quem usa o telemóvel nas épocas festivas. E posto isto, uma feliz e abençoada páscoa para todos vós e respectivas familias, que contem muitas e que vos seja concedido o dobro daquilo que me for concedido a mim...
As amêndoas, comam-nas todas que eu deixo.

Anónimo disse...

impossivel dizê-lo melhor... well done!!

Tangerina disse...

Então és tu?! Bem me parecia... Prometo que continuarei atenta às 'chamadas não recebidas porque não efectuadas':))

Bjo tangerínico!

FuckItAll disse...

Ganda mouro e ganda caetana. Eu cá faço questão do meu direito a ter o tlm ligado e não o atender. Desculpem lá mas não estou acessível por telefone 24h por dia. Muito menos para toda a gente (números restringidos têm muito maior probabilidade de ser ignorados).

Anónimo disse...

Fuckit, eu não sou nada ganda. E tenho um problema: muitas vezes nem para os meus mais adorados seres estou disponível e esses são os que mais me chateiam a mona se não atendo...eu sei, sou má.

FuckItAll disse...

Com certeza, há alturas em que não estou disponível, ponto. Mas nem quero começar a perceber a psicose de achar que devia ser diferente! Era o que faltava.

Quanto a não seres ganda: modéstias, modéstias.