terça-feira, abril 24, 2007

Na morte de Boris Ieltsin


Bertold Brecht inventou aquela do "se o povo não gosta do Governo, mude-se o povo." Era uma blague, mas Boris Ieltsin fez, na prática, algo de parecido: em 1991, em vez de tirar Gorbachov da URSS, tirou a URSS de Gorbachov.
É, que eu saiba, o único caso da História em que, para acabar com o governo de um país, se acaba primeiro com o país.
Só por isso, merece um lugar nela.

sexta-feira, abril 20, 2007

Declaração

Para os devidos efeitos, declaro que o verbo mais feio da língua portuguesa é:

Empratar

Ouvir dizer que fazem isso à comida tira-me completamente o apetite, e faz-me apetecer ser boi ou vaca para ir pastar ervinhas verdes e soltas pelos campos da Primavera.
Não o consigo sequer pronunciar, seja em que conjugação for. Tentei uma vez, e ia morrendo.
Foi a primeira vez que o escrevi. Não imaginam o que me custou. E será a última, exceptuando eventuais fins didácticos, citações literais, ou uma ordem judicial.

Vamos ao cinema


A exploração de um link sobre o riso levou-me a reencontrar um belo monólogo final de um belo filme. As palavras simples são lindas.

And yet, now that I'm an old, old man, I must confess that of all the faces that appear to me out of the past, the one I see most clearly is that of the girl whom I've never ceased to dream these many long years. She was the only earthly love in my life, yet ... I never knew, nor ever learned, her name.

quinta-feira, abril 19, 2007

Tarde em família

Descobri este video. Passa-se em Roanoke, Virginia, sede da empresa de onde veio a arma com que o puto coreano matou aquela gente toda na Virginia Tech.
Longe de mim fazer ligações apressadas, demagógicas ou sem sentido. Limito-me a achar curioso.
São bons cidadãos, reunindo-se presumivelmente ao domingo para confraternizar.
Aposto que ali é proibido fumar, pois trata-se de uma actividade muito perigosa para a saúde, e um mau exemplo para as crianças.

Meditação em tempo de ódio

Entretanto fui aqui e apetece-me falar sobre isso, subscrevendo muito do que lá é dito.

Em parte, que acontece em Portugal na atitude de muita gente para com os imigrantes é a verificação prática do dito "não sirvas a quem serviu." É, no subconsciente de muita gente, a desforra do bidonville: agora, já somos senhores, já temos quem nos despeje as retretes e apanhe os papéis do chão, já nos podemos vingar de gerações inteiras de cerviz dobrada a servir à mesa dos ricos.

Em muito português médio vive o Atila do Novecento de Bertolucci. É o "complexo do capataz": o que teme e inveja os senhores e despreza os que estão por baixo, servil para os primeiros, tiranete para os segundos, e a verdadeira matéria humana de que se alimentam todos os fascismos. É daí, desse patamar intermédio, que saem os meninos rabinos que são a tropa de choque da ideia mais imbecil da actualidade: a de que somos "brancos e puros" - nós, portugueses, a coisa mais misturada que existe após séculos de senzala, de amor na palhota, de marranice, de pecadilhos, luxúrias e necessidades devolvidas em naus de torna-viagem.

A imigração é, certamente, uma questão crucial. Os "bárbaros" atropelam-se à porta da Europa e infiltram-se, como há 1500 anos, o faziam nessa "Europa" que era Roma. Podia ter sido de outro modo, nessa altura? Pode hoje ser de outro modo? O que fizeram esses meninos rabinos, ou os pais deles, para o evitar, para manter forte aquilo que sentem ameaçado, seja lá o que for?

Mas, sobretudo: é um mal? O que é que está em risco: a "cristandade", hoje cada vez mais definida como sendo o conjunto daqueles que não vão à igreja? A "raça", essa coisa cuja pureza não existe em lado nenhum? A "cultura" e a "civilização"? Saberão eles de onde vem a suástica que trazem ao pescoço ou tatuam nas partes? Ou de onde lhes vem o ritmo que é a base das músicas que ouvem? Já nem falo da Marcha Turca de Mozart, esse expoente da cultura europeia que esses capatazes filhos de capataz nem devem saber quem é.

As palavras-chave são "estupidez" e "ignorância." E seriam ridículos se não fossem tão perigosos.

Ponto de situação

Este blog é tão intimista, tão familiar, que hoje até vim aqui de pijama, regar as sardinheiras da varanda.
Sabe bem este não andar em fogueiras, este circular na marquise por entre o gato, as fotos de casamentos e viagens, as lombadas das Maravilhas do Mundo Animal e os cristais da avó, com o cheiro do refogado que vem da cozinha lamber-nos o quotidiano.
Assim, deixo aqui, tranquilamente, o que hoje me preocupa: tenho que ir à farmácia entregar umas receitas para recuperar 30 euros que paguei a mais numa compra suspensa. Preciso de pasta de dentes, de azeite e de pão, por isso terei também que passar pelo Mini Preço sem esquecer o cartão, por causa dos descontos nas promoções.
Assim de repente, acho que não há mais nada.
A vida é um bem inestimável.

Post emocionado

Bem... estou tão habituada a não conseguir fazer loguin aqui no blog que, prontos pá, agora que consegui, nem sei bem o que possa escrever. Tou emocionada, é o que é.

Aqui vai info para fazer inveja aos amiguinhos:
a minha nova loja fica a 18 kms de casa (a anterior a 46), três semáforos (pouco problemáticos) e quatro rotundas (todas com hipótese de "escape".

Tenho estacionamento legal e de borla a 200 metros da loja e estou a uns míseros 700 metros desta bilbioteca de praia... o velhinho Diana Bar...

quarta-feira, abril 18, 2007

Momento de solidariedade

Aparentemente, a minha co-blogger perdeu-se no meio de um emaranhado de fusíveis, fios eléctricos, embalagens de calcinhas eróticas, chaves de fendas e a turbulência hormonal de vários jovens prestadores de serviços - tudo isto no âmbito de uma continuada deficiência internética. Calculo que esteja a passar horas difíceis. Daqui vai um bem hajas de solidariedade, e adeus até ao teu regresso.

O tempora...

Sim, eu às vezes também vou buscar coisas a França. E é tão gira, esta frase! (Que me seja desculpada a versão original, mas a tradução tirava-lhe metade da graça):

"Jadis, le rebelle était un homme du peuple qui voulait épater le bourgeois. Maintenant, c'est un bourgeois qui veut épater le peuple." Pascal Bruckner, "La Tyrannie de la Pénitence"

terça-feira, abril 17, 2007

Nos enfants de la Patrie


O que mais me chateia nem é a frase proferida por gente que, provavelmente, pouca tenção faria de "discutir ideias" se um dia chegasse ao poder. O que mais me chateia é ter-se-lhes dado pretexto para a dizerem.

O que me chateia, também, é ver este "nacionalismo" que macaqueia, nas cores e no próprio símbolo, um partido estrangeiro. Tudo ali lembra a FN, neste atavismo lusitano que, das ideias às botinas das senhoras, tudo recebe de França "pelo paquete do Havre", como dizia o eterno Eça. Aquilo tresanda a franchising.

Enfim, vendo bem, o D. Afonso Henriques também era meio francês. Se calhar, eu é que estou a ver mal as coisas. Que se lixe.

segunda-feira, abril 16, 2007

Primeiros calores (Take 2)

Hoje apetece-me dizer ao meu amor: mostra-me o teu Douro, que eu mostro-te o meu Tejo.

Primeiros calores (Take 1)

Tenho o ar condicionado do carro estragado. Ainda ontem, tê-lo era um luxo. Hoje, não tê-lo é uma chatice. Chama-se a isto "progresso."

domingo, abril 15, 2007

Salada russa

A oposição russa está a acordar, e andou todo o fim de semana a cumprir o seu destino histórico, que é o de ser moída de pancada.

Vladimir Putin é um legítimo sucessor de Catarina a Grande, para quem "a Rússia é um país demasiado grande para ser governado por mais que uma pessoa."

sexta-feira, abril 13, 2007

Das obras

Um electricista deu-me um orçamento no valor de 455 euros. Depois de 5 minutos de conversa, já fazia o serviço por 320.
Hoje ligou-me a oferecer-se para o fazer por 290.

Isto é que é profissionalismo!


ps - a net anda marada cá por casa. Voltarei logo que possível.

segunda-feira, abril 09, 2007

Como impressionar 3 gajos duma só vez

Pedir uma chave Allen de 4,5 mm, de preferência com rotação a 30º.

quarta-feira, abril 04, 2007

Dulce et decorum est...


Faz 175 anos.
Comê-la dá-nos uma das três provas da existência de Deus (outra é a Monica Belucci. E a terceira é cá comigo).
Chateia-me não ter agora aqui uma fatia.
Mas se o meu sangue não me engana, havemos de ir a Viena

O direito à incomunicabilidade

Hoje de manhã fui ao dentista e, por razões óbvias, não podia atender o telefone. Desliguei o aparelhinho para não me chatear com o apito.
Nos minutos que se seguiram a tê-lo ligado de novo, tive que aturar a estranheza de três interlocutores por me terem ligado em vão. Um deles teve mesmo a lata de me perguntar porque é que eu tinha desligado o telemóvel. Respondi-lhe que foi porque me apeteceu e que ele não tinha rigorosamente nada a ver com isso.
Perdemos o direito à incomunicabilidade, que é tão sagrado como a liberdade ou a busca da felicidade (aliás, faz parte delas).
Por mim, quero-o de volta. Fica aqui dito que, se me ligarem, pode ser que me apanhem ou não.
E se ninguém vos telefonar, já sabem que sou eu.