Apologia da neve
Frio e neve em Lisboa dão uma estranha sensação de dépaysement (pardon my french mas não conheço equivalente português: "despaisamento"? É atroz.) Parece que estamos no estrangeiro - naqueles países onde o calor é mesmo calor e, sobretudo, o frio é mesmo frio. Pôr um casaco grosso senão morremos, andar pela rua a soltar vapor pela boca, procurar o abrigo de um estabelecimento quentinho, sentir o "cheiro" do frio nas pedras, no asfalto húmido, misturado no ar poluído, são sensações raras em Lisboa. E bem vindas, porque nos tiram da modorra deste clima que nem é carne nem é peixe.
Gosto dos extremos climáticos. Chateia-me que não caia mais neve em Lisboa. A neve é civilizada: nem todos os países com neve são civilizados, mas todos os países civilizados têm neve. Excepto talvez na Austrália - mas, aí, a civilização não é autóctone, é importada (ou melhor, deportada, já que nasceu de uma colónia penal). E também neva um bocadinho, lá no sul.
Desde que a civilização deixou de precisar da agricultura e dos rios, passou a desenvolver-se onde há desafios a vencer. O desenvolvimento cresce com a distância aos trópicos. Um tipo na Escandinávia, com aquele frio e seis meses de noite, ou trabalha ou morre. Em África, basta-lhe cuspir para o chão e nasce uma planta - para quê trabalhar?
Em Lisboa, não há nem muito calor nem muito frio, é sempre este climazinho tépido que anestesia a alma e amolece a vontade. Venham o frio, a neve, os raios e os coriscos.
32 comentários:
Mouro a tua África deve ser aquela do "África Minha", não?
Concordo que é uma chatice não nevar em Lisboa sempre desapareciam mais uns sem-abrigo malcheirosos além de que a neve torna as cidades lindas, mais que não seja porque o que é feio fica disfarçado. Que venha a neve mas a verdadeira, esta geada armada ao pingarelho é deprimente. E depois, dá-me tédios a conversa matinal do portuga enregelado "ai, que estou a morrer de frio!" Pois se é pra morrer que morram de vez em vez de andarem a anunciar mortes que infelizmente não se concretizam. Bahhh, que tédios Fuckit, que tédios! :)
Mouro inculto: referia-me a "O Último Suspiro do Mouro" do Salman Rushdie e não a Boabdil e ao último olhar sobre Granada :)
A minha África é aquela onde vivi tempo mais do que suficiente para a conhecer. E o Rushdie não exclui Granada - foi de resto em Boabdil e na sua choradeira que ele se inspirou, Joana inculta...
Precisando: inspirou-se para o título, claro, numa clara referência ao "El sospiro del moro" granadino. O resto são tretas.
Mouro susceptível,tu não mirrites. Apre! Sabes bem que Áfricas há muitas, incluindo aquela onde, por mais que cuspas, não cresce nada.
Quanto ao resto...não precisavas de ter precisado: é óbvio que o homem se inspirou nas granadices, para o título e não só, como saberias caso tivesses lido o livro em vez de ir ao Google ver que raio de merda era aquela :)A tua associação foi correctíssima, só não foi boa porque não foi a minha. Mas que o resto são tretas, isso é que é muito feio de se dizer. O resto é sublime.
Que raio de argumento... Áfricas há muitas, Europas há muitas, chapéus há muitos. E então? Vamos por isso negar que os chapéus servem essencialmente para pôr na cabeça? E que o clima da África é essencialmente tropical? E que o da Europa é essencialmente temperado? Já apanhei frio em África e calor na Finlândia. Mas desde quando as excepções negam a regra?
E sim, o resto são tretas - a começar pelo Rushdie, que é um chato de primeira. Ninguém lê aquela merda. Nem o Khomeini. Nem tu. :)
Ah, e eu também não estava a pensar no Boabdil, mas num licor que eles lá vendem em Granada com aquele nome, sua ignorante.
Pois Joana, desculpa, mas estou a morrer de frio.
E ontem, sim, mouro, saí e de repente veio-me Amsterdão à cabeça...
eu na vi a neve e a mim nunca vem esse à cabeça o holandês, confesso q a neve me faz pensar em lareira e chama e tal (fiu, fiu, fiu, oh mouro, tu senta-e em frente à lareira em dia de frio e logo vês se a anestesia na te passa logo) ihihihihihihi
Mouro, Mouro...onde aprendeste tu geografia? Essencialmente tropical? Em que essência? Credo! Mas adiante...fica sabendo que do Rushdie seca mesmo só os versículos e se calhar é porque não percebi patavina daquilo. E claro...onde estava eu com a cabeça? O licor é muito mais famoso do que o maricas do Boabdil.
Ufa, tou farta desta conversa.
Fuckit, quero lá saber que estejas a morrer de frio, absolvo-te antes da morte. Estás perdoada.
Ena! És a nossa senhora que veio à terra disfarçada de blogger?
Hehehehe, fuckit, acho que a vossa senhora não concede perdões.Devo ser algum padre. Juízinho senão para a próxima condeno-te a arder no inferno, sempre ficas mais quentinha :)
Tens razão, Joana. África é conhecida por ser fria, gélida mesmo, e ser essencialmente povoada por pinguins. Eu às vezes precipito-me.
Se o Inverno não passa depressa, o Inferno começará a parecer-me uma boa opção. Já sei com quem tenho que falar. Apre.
E "vossa" nada, não a quero cá por casa a molhar tudo com aquelas lágrimas dela. Isto já é húmido o suficiente.
Deixa estar mouro, eu também me precipito. Vê lá tu que confundi África com a Amazónia! Achei que tinha desertos e coisas assim mais diversificadas do género climas desérticos, semi-áridos e até mesotérmicos, pasme-se! Desde quando temperatura elevada é sinónimo de clima tropical, hã?
Pára lá com a birra. Não tarda estás a tratar-me mal e eu desato num berreiro, adoro-te :)
Por falar em berreiros, tu é que disseste que a senhora era "nossa", Fuckit. Eu não tenho cá nenhuma para além de mim,por isso presumi que fosse tua e do Mouro. As minhas desculpas, longe de mim querer pôr-te de esfregona em punho a apanhar a choradeira dessa chata.
Climas desérticos podem ser também tropicais (tropicais-desérticos, no caso africano). O facto de haver de tudo em África - como noutros continentes e até nas farmácias - não exclui o facto de o clima, lá, ser tropical em grande parte do território. E noutra grande parte, é equatorial - o que dá ainda mais sentido à frase de onde este interessante debate nasceu.
O debate tem sido de facto interessantíssimo e tenho pena que termine mas... xiça!... e noutra GRANDE parte é desértico e semi-árido. Tropical-desértico não existe pelo menos segundo a classificação de climas adoptada pelos cientistas versados na matéria. Apre. E sei lá qual foi a frase que deu azo a esta merda! Já me perdi com tanta birrice.
E faxfavor de não responder só pra chatear que eu estou a ver os outros blogs e não quero interrupções.:)
Existe sim. É uma subcategoria.
A frase era que "em África um tipo cospe e nasce logo uma planta." Não referi as coordenadas exactas dos locais de África onde isto acontece porque é em grande parte do território. E escrevia para gente que percebe o que eu queria dizer :)
Mas pronto, também fico por aqui. Estou ali ao lado a fazer sexo oral, também não quero ser interrompido.
- Não é em grande parte do território;
- Se é uma subcategoria deve ser de uma classificação desactualizada;
- Não é preciso ser-se iluminado para compreender generalizações abusivas;
- E eu não disse que ias acabar por me tratar mal? Estas coisas chateiam-me. As pessoas levam-se tão a sério, credo.
Bom orgasmo.
- É em grande parte do território. Não é pequena a parte do território que tem clima tropical e/ou equatorial. Juntas, são mais de metade.
- Não sei se é desactualizada. Mas se o fôr, isso não implica que seja falsa.
- Não fiz generalizações abusivas. Fiz generalizações perfeitamente aceitáveis, sob pena de ter que escrever tratados com citações e notas de pé de página de modo a contemplar todos os aspectos e excepções de uma questão. Tratados esses que não só não tenho competência para escrever como seriam obviamente incompatíveis com este meio. Repito que estava - e estou - a escrever para "bons entendeurs" a quem meias palavras deveriam bastar.
- Argumentar e discordar é tratar mal?
Vocês podem provar-me que África existe?
oh... just get a room!
Vendo bem, acho que não existe. É o que eu digo: às vezes precipito-me.
Hehehehe...mas será que dentro de cada pessoa minimanmente aceitável tem que existir um homúnculozinho execrável? Mouro, a minha intenção não foi pôr em causa os teus conhecimentos, a frase que tanto te chateou era apenas uma provocação(zinha, ainda por cima); o resto... ó faxavor, achas que um pormenor climático é razão para tanta seriedade? Credo. I'm chilled to the bone. E não, argumentar não é tratar mal, mas a frase: "E escrevia para gente que percebe o que eu queria dizer :)" com sorrisinho no fim e tudo....é de um anfitrião desagradável. Eu acho. Até porque eu sou uma óptima entendeuse, meu caro, mas posso fingir que não sou. Just for fun.
Ah, se imaginar que tenho um blog e que me aparece alguém que eu julgo ser um completo desconhecido a chatear-me a cabeça no meu territóriozinho...talvez consiga perceber a tua rezinguice. É mesmo a única forma de a compreender. Optimismo não me falta!
Claro que puseste em causa os meus conhecimentos. Nem sequer fiz questão de os explanar aqui, dos tipos de clima á literatura moderna. Apenas respondi às tuas objecções. Mas ao contrário de ti - que odeias perder a razão - eu adoro que me ponham em causa, porque me divirto imenso.
E continuo a divertir-me imenso. Um pormenor climático é um tema de discussão tão bom como qualquer outro. Há gente que até dedica a sua vida a tal tema.
Também ao contrário de ti, limito-me a debater ideias, e nunca fiz qualquer juízo de valor sobre ti. Só te chemai "inculta" e "ignorante" em claro tom de brincadeira e em resposta às coisas que me chamavas (mas as brincadeiras válidas são só as nossas, não é? As dos outros são "tratar-nos mal"...) Nunca te chamei susceptível, homúnculozinha, rezingona, desagradável, birrenta, culpada de ires ao Google para saberes o que devias saber, ou do enorme pecado de não ter lido Salman Rushdie (não leste. Mas não é pecado). Foi lindo o retrato que traçaste de mim em tão poucas linhas.:-)
Claro que foi a brincar. Mas nem que fosse a sério eu me importava. Não tenho territoriozinhos, e o quintal que tenho, adoro que entrem nele (e não, não eras uma "completa desconhecida"). Por falar nisso, o que me divertiu foi precisamente ver-te defender tão afincadamente o teu "territoriozinho" africano - onde de resto nunca puseste os pés. Eu puz, e cuspi imenso, lá...
No fundo - e sabes isso muito bem, até por formação - tendemos sempre a projectar nos outros muito do que somos e da forma como vemos as coisas.
Descontrai-te. Porque te hás-de ofender e irritar com uma simples discussão sobre climas? Afinal quem é que se leva a sério? Para mim, sérios, sérios, porque inevitáveis, só a morte e os impostos :)
Ah, e quando se finge que não se é uma "óptima entendeuse", não se pode estranhar que os outros finjam que acreditam. Ou que acreditem mesmo.
Hum...vamos lá ver...vamos por partes que isto está um bocado confuso. Primeiro do que tudo, eu sabia que estava a ser optimista demais mas...adiante. Vou repetir: não quis pôr em causa os teus conhecimentos que sei serem muito mais abrangentes e profundos do que os meus em quase todas as áreas. É normal. Entre outras coisas, tiveste mais tempo para aprender do que eu. Next: para se perder a razão é preciso, primeiro, tê-la, certo? Realmente fico um bocado chateada quando não tenho razão mas desbronco-me logo e até me dá vontade de rir como, aliás, tu sabes.
Não fiz juízos de valor sobre ti, para serem juízos era preciso serem ditos como se de verdades se tratassem, o que não foi o caso.
Não me ofendeu absolutamente nada o facto de me chamares inculta e ignorante. Percebi que estavas a brincar. E mesmo que não estivesses, eu não me ofendo, não sei o que isso é.
O que estava aqui em causa não era África, se fosse talvez tivesse defendido alguma coisa afincadamente. Defendo muita gente em que nunca pus a mão, porque não haveria de defender um sítio onde nunca pus os pés?
E sim, em muitas situações fazemos uso da projecção. É um mecanismo de defesa. Porque o utilizaria se nada me ameaçou?
E agora vou parar mas já volto.
Voltei.
"Ah, e quando se finge que não se é uma "óptima entendeuse", não se pode estranhar que os outros finjam que acreditam. Ou que acreditem mesmo."
Pois, c'est ça. Eram os pressupostos que estavam errados. E vistas as coisas por este novo prisma compreendo que realmente, meti o pé na argola. Vistas as coisas por este novo prisma, admito mesmo ter sido parva, abusadora, desadequada e intrometida. Que mais posso fazer senão pedir as minhas mais humildes desculpas por tamanho erro de percepção? Garanto que nada do que disse te era dirigido, espero que percebas pelo menos isso. Desculpa lá qualquer coisinha. E não há aqui qualquer ponta de ironia.
Repito: afinal quem é que se leva tão a sério? Descontrai-te. Foi apenas uma discussão sobre geografia, não foi a III Guerra Mundial. Aqui ninguém se ofendeu (eu pelo menos não), apenas se divertiu.:)
Pois, pois, está bem.
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