Trovas do vento que passa
Estou com o JPP. Não tarda, será impossível andar pelo país olhando os campos, as cumeadas, os horizontes,sem ver neles poisados esses gigantes disformes como invasores marcianos da Guerra dos Mundos. Em nome da ecologia, todo o nosso universo visual está a ser poluído sem remédio.
Já não são as maisons de emigrantes que nos agridem numa volta de estrada mas das quais desenjoamos na volta seguinte contemplando uma fraga ou um vale impolutos. Já não são sequer as antenas de telemóveis eriçadas aqui e ali. Não são horrores pontuais dos quais podemos fugir. São notas incontornáveis que marcam tudo, até onde a vista alcança e nos vão encerrando num universo de aranhiços metálicos para onde quer que vamos ou olhemos. Não são furúnculos localizados: é uma praga que está a corroer toda a pele da terra, toda a paisagem, o "skyline" do país inteiro, uma invasão da qual um dia será inútil fugir para contemplar um horizonte limpo, um campo primordial, uma montanha inviolada. Não são adereços mal colocados ou mal escolhidos no cenário: é o próprio cenário, no seu todo, na sua essência, que está a ser alterado.
Claro que as energias renováveis são necessárias, e são talvez o futuro. Mas a que preço? É possível ordenar as coisas. Ainda há tempo de evitar o desastre. Não sei se há vontade ou força. Conhecendo o espírito do país, os antecedentes urbanísticos, a selvajaria e o desleixo seculares, só se pode ser pessimista. Dentro de poucos anos, não haverá paisagem limpa em Portugal. Literalmente, é um ar que lhe vai dar. E ficaremos uns quantos cavaleiros, cada vez mais da Triste Figura, a investir contra moinhos de vento.
37 comentários:
Desculpa lá oh Mouro, mas não concordo com essa da "Triste Figura"
Tristes são os q se acomodam, os q deixam de acreditar, os q aceitam tudo, os q baixam os braços, os yesman, oras...
(essa de investir contra moinhos de vento, é literal, ihihihih)
E tou contigo, q já tinha pensado nisto, e ficava sempre dividida, entre a invasão dos "monstros" e o facto de permitirem aproveitar os recursos naturais, bolas, eu juro q se conseguisse imaginar uma solução, a entregaria de boa vontade, até lá, eu seja "ceguinha", se volto a olhar prós montes...
Há sempre quem ache que esses que não se conformam fazem tristes figuras.
Lém do mais, há um perigo adicional: um dia destes, quando soprar um ciclone mais forte, o país ainda levanta voo.
Credo, até parece que a culpa é das energias renováveis! Renovar é preciso, não devia era ser feito à medida dos interesses económicos de alguns e logo, às 3 pancadas. Mas vai ser, claro.
Mesmo assim sinto-me contente por viver nesta parte do mundo cada vez mais feiosa, cada vez menos capaz de proporcionar a paz que o espírito alcança quando contempla coisas belas.
Tenho uma percepção muito global do mundo físico que me rodeia: não ligo nenhuma a um belíssimo edifício se ele estiver rodeado de construções mórbidas. Preciso muito, demais, de beleza à minha volta mas de uma beleza total, não de uma beleza pontilhada. Dizia-me um amigo, à laia de interpretação (pois, é psicólogo e só sobreviveu ao meu escrutínio porque geralmente não se atreve a treinar em mim), que a beleza ou a fealdade que os nossos olhos vêem depende do nosso estado interno. O caraças! Feio é feio e bonito é bonito quer se esteja com ideias suicidas quer se esteja hilariante. Por exemplo: eu contemplo diária e sériamente a hipótese de suicídio quando chego a determinada zona de Lisboa e no entanto, no caminho para lá vou apaixonada e exultante. E porquê? Porque vejo o mar. O mar é o nosso ultimo reduto de ilimitada contemplação, em que nada nos faz estacar o olhar, nada nos faz fechar os olhos. Mas o ilimitado também farta: olhar constantemente o mar sem vislumbrar a costa deve ser ou muito angustiante ou muito entediante.
Mas dizia eu quando começei (entretanto perdi-me), que me sinto contente por viver neste país tão atraiçoado. Porque, pelo menos aqui a terra não está grávida de minas, porque o olhar não é cortado por crianças amputadas, porque o deserto não é interrompido por amontoados de tendas cercados de arame farpado. Porque aqui posso pensar as coisas sem ter que as ver mesmo que a capacidade imagética armadilhe esse suposto conforto.
Não me preocupa a fealdade que habita em todo o lado e em todos nós. Mas preocupa-me vê-la dissimulada sob a capa da ajuda humanitária, perceber as motivações exclusivamente políticas e económicas de algumas organizações no terreno, lidar com o desiquilíbrio de poder gerado por aqueles que pretendem passar uma imagem de "ajuda na emergência" e no entanto se enraízam cada vez mais em situações de permanência. Preocupa-me sobretudo perceber que a divisão entre vítima e carrasco é tantas vezes artificial e que é fácil uns tornarem-se os outros.
Os outros. Uma diferenciação tão arcaica quanto necessária para a preservação de quem opera neste e em qualquer outro contexto. O domínio colonial é ainda descrito como tendo por característica pérfida esta dualidade nós/eles. Mas, só por si, isto não tem nada de condenável. "Eles" são de facto, os estranhos, os outros. Se uma pessoa se define por oposições como o dentro e o fora, o "eu" e aquele que não é "eu", porque não o haveria de fazer um povo ou uma comunidade? Condenável é agir irracionalmente por medo do desconhecido, é querer construir os outros à nossa imagem ou exercer o poder para que não nos ameacem.
Não sei como será o confronto com as populações mais impensáveis e indesejadas do mundo. Não vale a pena falar no sofrimento da perda, nas deslocações forçadas, na necessidade de reconstruir uma nova identidade que acalme e perdoe todos os horrores que vimos, todos os horrores que cometemos; não vale a pena falar no sofrimento do corpo e da alma, até porque ia ter o Mouro a chatear-me a cabeça por estar a falar do que não vivi...
Pode parecer insensível e superficial da minha parte falar agora na beleza que não se irá encontrar. Ter-se á uma beleza pontilhada levada ao extremo. Falo da beleza arquitectónica e da beleza natural domada (jardins e parques, canteiros e coisas afins), porque beleza natural, essa, ao que consta é inenarrável, só vista, mesmo.
Txiiiiiiiiiiiiiiii...sorry, nem eu tive paciência para reler o que escrevi..Só mais uma coisinha: ouvi dizer que a Faculdade de Letras de Lisboa tem estado cercada pela polícia especial porque anda para lá um bando de skins relativamente organizado e grandinho, a atormentar as pessoas normais. Pior, o cabecilha do bando está a concorrer às eleições para a A.E. A boa notícia é que a afluência às urnas tem sido altíssima em comparação com os anos anteriores e não, não tem sido para votar na lista X dos faXistas :):)
é tudo numa questão de dinheiro. daquia a umas décadas os descendentes da malta vão estar a desmatelar os ditos girasóis por poluirem a vissta. isto se o planeta não acabar antes. Agora vou acabar de ler o post da caetana. Isto se conseguir chegar até ao fim:)))
Só uma rapidinha, caetana, no ponto em que sou referido, porque a hora é adiantada e só estou aqui a ver se o sono me apanha depois de ter corrido umas horas à frente dele:
O Mouro não te chateia a cabeça por falares de coisas que não viveste. O Mouro, como o resto da Humanidade, faz isso todos os dias. Se só falássemos das coisas que vivemos teríamos muito pouco para dizer. E se o nosso saber fosse só de experiência feito, estávamos tramados: não sabíamos rigorosamente nada para além de comer, dormir e um punhado de actividades básicas de sobrevivência. A esmagadora maioria do que sabemos é de "ouï dire," ou "lire."
O Mouro só eventualmente "chateia a cabeça" é quando vive as coisas e lhe falam como se ele não soubesse nada delas.
Tudo isto parece solene mas não é. Na verdade, o Mouro só chateia a cabeça às pessoas porque adora chatear a cabeça às pessoas. Por isso, e por mais que faças, não te livras de levar.
Olá Mouro, claro que todos nós falamos do que não vivemos, pensamos sobre o que não vivemos e sentimos o que não vivemos. O que não temos é capacidade para advinhar o que os outros viveram ou não, daí o meu cuidadinho. Não para fugir da cruxificação, essa como tu dizes, está garantida, mas por respeito. Só por respeitinho.
Ah, eu nunca falo com as pessoas como se elas não soubessem nada sobre o assunto em causa mas há que admitir que por vezes, raras é certo, sabem bem menos do que eu.
O que eu disse apoia-se em coisas que estão algures por aí escritas por nós ambos, mas que não me apetece ir vasculhar. E não é importante, só me apeteceu chatear-te a cabeça.
Anonymous, se conseguiste chegar ao fim tens direito a um rebuçado.
Eu sei em que te apoias, Mouro. É um apoio periclitante. A mim apetece-me sempre chatear-te a cabeça e... consigo.
abençoada caetana......
Define "chatear," porque não me parece que te incluas nas coisas que dão título a este "belogue".
Há muitas maneiras de se chatear e outras tantas de se ficar chateado!
Pois há. Mas a mim, o que me chateia verdadeiramente aqui é a burrice que me remete ao silêncio. De resto, batam-me e piquem-me que eu gosto. E então se me chamarem nomes feios... Uau!
"Sticks and stones may BREAK my BONES (but words will never hurt me)"
see what I mean, Mouro?
E já agora, pra que é que dizem pra vos chatearmos por mail se não vão lá ver os google mails, hã? Mouro?
Vê lá se és capaz de responder a estas questões de interesse nacional. E...define nomes feios.
Se vejo what you mean? Filha, in other words, foi isso mesmo que eu te disse...
De resto, nunca me queixei de ti. Quem escreveu "iria ter o Mouro a chatear-me a cabeça" foste tu, lá em cima. But I never used sticks and stones, baby. Only words. :)
Arre que é burro!!!!! Eu dou uma ajuda:
BREAK?
BONES?
Mails?
Tás a ver a coisa?
Raciocina, pá. :)
Ah, e vou averiguar isso dos mails. Estou a pensar em nomear uma comissão que estude a constituição de uma equipa com o objectivo de proceder a estudos conducentes à recolha de elementos que sejam objecto de um relatório preliminar a ser submetido à apreciação de uma outra comissão, que depois elaborará directivas sobre o perfil do responsável pelo cabal apuramento da verdade, cuja nomeação será depois submetida a votação após a recepção de sugestões e candidaturas. Descansa, que está tudo sob controle.
E dá lá mais pistas, já agora. Porque essa nem Deus, na sua infinita bondade e presciência, adivinha.
GRRRRR (oiça-se uma rosnadela daquelas de dentuça arreganhada: Mouro, eu tenho ossos, tu tens ossos, toda a gente tem ossos (ainda que nem todos tenham coluna vertebral)mas que eu saiba pelo menos os meus e os teus estão intactos. Haverá outros que não estão, ao que parece, sei lá.
Isso, depois de tudo isso feito, averigua o gmail, averigua.
E se já tinhas percebido e tás armado em parvo (Ahahahaha), nunca mais falo contigo.Mainada.
Ficas tão gira quando te zangas...
Ai é? Pois fica sabendo que está tudo acabado entre nós. Nem mais uma ofensazinha, nem mais um nome feio, sairá desta boquinha. Toma!
Eu, prontos, era só para dizer que o mouro nem sequer sabe a password do nosso gmail....
Pois, sou sempre o último a saber...
Pois, mazinha mas isso não interessa nada, é culpado na mesma. Ehehehe
E tu ó meu...meu...meu centrozinho comercial, minha sopinha de favas, minha bicazinha escaldada, minha unhinha de gel, meu intelectualzinho, minha televisaõzinha acesa todo o dia, minha casinha sem janelas, meu descampadozinho....tu, vai...vai dar um lindo passeio :)
De tudo isso, escolho a sopinha de favas. É o que mais me dá gosto ser, sei lá.
E quem lhe disse que podia escolher, minha tarântulazinha fofa, minha açordazinha de marisco, meu dia de vento forte e chuva oblíqua, meu Eduardinho Sá, meu pudinzinho instantâneo, minha longa chamada telefónica, meu Paulinho Coelho, minha publicidade não solicitada, minha sandes de courato....hã? quem lhe disse?
Paulinho Coelho? Esse McDonalds da literatura? Agora é que amuei mesmo. Continuo na sopa de favas.
Ts ts ts. O que é isso, a ofender o Mcdonalds? Hã meu Mugabezito, minha excursãozinha à torre Eiffel, meu Baptistinha Bastos, meu tilintar de pulseiras, meu diminutivozinho, minha tatuagem, meu silênciozinho armadilhado, minha páscoazinha, o que é isso, hã?
Já chega, não? Daqui a pouco esgota-se o meu reportório de meiguices :)
Só mais este mimo, não sei como me escapou, sua ...orquídea, sua orquídia, sua orquídia!
ORQUÍDEA! (zinha)
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