domingo, março 25, 2007

Hoje vamos à bola. Mas não redonda.


O que está relatado nesta pedra, colocada no colégio de Rugby, é certamente apócrifo. Mas é delicioso que o nascimento (ainda que mitológico) de uma actividade se deva a um gesto de "fine disregard for the rules" de outra. Claro que isto - o facto, o mito, e a lápide - só podia acontecer em Inglaterra.

O râguebi – sobretudo quando bem jogado - é um dos mais belos desportos de equipa, e talvez o mais completo. Alia a disciplina colectiva, o espírito de corpo e o sentido de sacrifício da falange grega à astúcia individual e reflexos do guerrilheiro, a força bruta à agilidade. Requer coragem física e inteligência em doses generosas. É tudo menos um jogo de selvagens obtusos: pelo contrário, é um jogo de gente suficientemente inteligente e sofisticada para saber tirar todo o partido da complexidade técnica. Sob aquela aparente brutalidade caótica joga-se um confronto altamente complexo, codificado por quase 40 regras (o futebol tem 11), a maior parte destinada a aumentar o desafio físico, moral e intelectual do executante. É um jogo extremamente duro, jogado nos limites da violência – mas, por isso mesmo, impondo aos que o praticam padrões morais e éticos raramente vistos noutros desportos. Costuma dizer-se que, enquanto o futebol é um jogo de cavalheiros jogado por rufias, o râguebi é um jogo de rufias jogado por cavalheiros. Está para o futebol e similares como o xadrês está para as damas.

A selecção nacional portuguesa de râguebi cometeu este sábado um feito enorme, que foi o de se classificar para a fase final do Campeonato do Mundo. Só quem tiver uma ideia da galáxia que separa o râguebi português das grandes potências da modalidade poderá avaliar a amplitude da proeza - comparável à de o Grupo Desportivo Rebentacaixotes da Parvalheira de Baixo chegar à final da Taça de Portugal.

No entanto, tive uma enorme dificuldade em encontrar a referência a este facto nos jornais desportivos portugueses. Não sou consumidor do género, por isso aceito que tenha tido dificuldade em percorrê-los. Mas o futebol é avassalador, e a proeza da nossa selecção num jogo que enche estádios por esse mundo fora e atrai o interesse de muitos milhões de pessoas fica submergida pela nevralgia de um qualquer ponta-de-lança da III divisão, ou pelo treino do tal Rebentacaixotes.

Em Setembro, a jogar entre os melhores do mundo (todos profissionais), vamos certamente ser cilindrados logo de início pelo rolo compressor da Nova Zelândia. Mas vamos estar lá, graças a um punhado de homens que tem de meter baixas, férias ou dispensas no trabalho para irem aos treinos, e quase precisam de pagar para jogar.

Dito isto, claro que o futebol é um jogo maravilhoso e que o Ronaldo e o Quaresma me pregam ao televisor. Mas há mais coisas sob o céu do que as que sonha a nossa vã filosofia.

8 comentários:

Anónimo disse...

Eu não, mas a minha família agradece o elogio ao rugby :) Pessoalmente, sempre o achei uma coisa chata cómó caraças, submetida que fui desde tenra idade a jogatanas infindáveis com gaijos a dar pró bestaróide a pôrem-se de rabo para o ar por dá cá aquela palha. É, nunca percebi a lógica da melée e nunca me perdoaram essa blasfémia. Só muito mais tarde vim a apreciar aquelas tardes soalheiras mas não foi cá por causa do jogo.Cresci masé... e descobri alguns encantos naquela seca. Foram eles umas excepções giraças que davam novo brilho às placagens, às melées e até aos postes.Triste triste é que quase todas as excepções eram da família facto que fez esmorecer rápidamente o meu entusiasmo :(

Parabéns à selecção, que é amadora e não tem onde cair morta, note-se.

O meu Quaresma mais o seu pontapé de trivela (kiéisso??)e o puto Ronaldo,impossívelmente irritante, também me colam à televisão. Tão bnito caquilo foi ontem!!! E aquele: "oooiçammmm bemmmmm o que vosss digooooooooo..."? Imperdível.

Ah!Não escrevo râguebi porque não percebo aquele acento circunflexo...como é que se lê aquilo?

Anónimo disse...

Por acaso acho que o chapelito não faz falta nenhuma, e se pode escrever raguebi. Note-se que eu só o escrevo assim, e não rugby, porque também não escrevo foot-ball...
Também não sei de onde vem "trivela", palavra que só muito recentemente ouvi pela primeira vez. "No meu tempo" (expressão horrível) não havia nada disso. E também não havia uma coisa chamada "assistências": faziam-se passes de uns para os outros e pronto. Assistências eram só os maduros que assistiam aos jogos.
Estarei velho?

Mazinha disse...

tu n queres uma resposta honesta, pois não, minha coisa fofa?

Anónimo disse...

Claro que não, riqueza da sua avó.

Toni25cm disse...

És mesmo mouro, méne. Atão não sabes que isso da "trivela" foram os gaijos do Porto que imbentaram? É que um chuto daqueles não é uma coisa bela, é mais do que isso! É tri-bela!
Panhonhas do camandro que tu me saiste, pá!

Anónimo disse...

Pois é, Badie, a gente dá confiança a esta gente e eles depois entram por aqui a insultar-nos. Pessoas da nossa posição social deviam ter mais cuidado. Mas a culpa disto é da democracia e do 25 de Abril. Ah, se eu mandasse...

Anónimo disse...

Ninguém escreve foot tracinho ball e fiquem sabendo que vcs têm mas é inbejum do toni25cm, o génio que conseguiu explicar a tal da trivela ao povo português (eu valho por todo o povo português, o que a bem dezer não é valer grande cousa)

Toni25cm disse...

E mainada, ó joanica. Atão passa lá na minha rua que eu explico-te mais coisas. Eehehehehe