sexta-feira, março 02, 2007

Serendipities

Eu tinha uma dor na perna, cá em cima junto à virilha - uma daquelas dores agudas, chatas, que vêm aos repelões e nos fazem parar subitamente ao som de um "foda-se!". Nem sabia como tratá-la - aquilo era ossos, nervos, músculos? A que médico ir? Há médicos das virilhas? A ignorância paralizava-me tanto como as guinadas de dor.
Acrescentou-se-lhe uma dor de dentes. Enquanto a dor na perna é suportável para um estóico que encontre soluções para ela - não se mexer muito, calcular os passos e os movimentos, etc. - a dor de dentes, como se sabe, é incontornável. Está lá sempre, por mais que tudo ou nada façamos.
Somos limitados, só temos espaço para uma dor de cada vez. O dente a latejar sobrepunha-se a tudo o mais, fosse bom ou mau - à dor na perna, ao sabor do vinho, à voz do ser amado, à lembrança dos impostos. Desesperado, à beira, senão da loucura, pelo menos da perda da compostura, automediquei-me sem contemplações nem pudor. Atirei cá para dentro com um anti-inflamatório facultado por quem é perito em dores de dentes.
Então, passou-me a dor na perna.
A do dente ficou, embora dentro de limites já perfeitamente aceitáveis. Mas a da perna, essa, que me tolhia, que me punha com ar de entrevado, segurando-me tremebundo a tudo e a todos para os gestos mais simples de caminhar ou levantar da cadeira, partiu para longe.
Foi assim, por mero acaso, que Colombo descobriu a América - que se lhe atravessou inesperadamente no caminho da Índia. Acho que se chama a isto uma "serendipity" (penso que há palavra portuguesa, mas não me apetece arrastar-me para qualquer dicionário, estou muito ocupado na minha recém-adquirida ligeireza de movimentos): esta coisa de chegar a um lado quando se persegue outro. Quis tratar de uma dor, tratei de outra, acabando por aliviar as duas numa perfeita sinergia, ou economia de escala, ou que treta lhe queiram chamar.
Que interesse tem isto? Nenhum, claro. Mas isto dos blogues é giro, e é para isto que eles também servem: para as pessoas porem aqui as coisas sem interesse nenhum que são o tecido das suas vidas. Dantes, quem escrevia inanidades poéticas ou diarísticas guardava na gaveta. Hoje, põe na Net. Se ainda há bem pouco tempo me dissessem que eu iria falar das minhas dores em público - eu que mal o faço em privado - não acreditava. Mas cá estou. A Net é o espelho de Narciso. E como se diz na epígrafe deste blogue, se todos têm, eu também quero.

4 comentários:

Mazinha disse...

bem-vindo ao maravilhoso mundo do jabasulide, meu velho..

já agora, para a dentuça: ponstan.
Conselho aqui da especialista em dores agudas dentários :P

Anónimo disse...

Perguntavas-me o caminho! Há sempre uns atalhos para se chegar onde já não se quer.
Há uma América porreira chamada Buscopan( a propósito, acho que não foi o Colombo que descobriu a América, foram os Vikings hahahaha). Voltando ao que não interessa eu é buscopan pra tudo: ele é quando dói a cabeça, ele é quando dói o ovário, ele é quando doi o músculo, ele é um querido. Lá para a dor de dentes felizmente ainda não precisei de seduzi-lo mas tou convencida que temos uma relação tão forte que mesmo que seja placebo, me tira qualquer dorzita. Sobre a de corno não tenho certezas.
Experimenta agora tomar esse teu anti-inflamatório para tudo o que te aconteça, vais ver que resulta qual poção mágica e escusas de andar a baralhar o organismo com essas mariquices de um químico para cada coisinha.

Eu também acho isto dos blogs uma coisa assim a dar para o narcisista por isso é que não tenho nenhum. Por isso e porque "I have nothing to declare except my genius".

Anónimo disse...

Este blog tem de tudo, é como na farmácia, e já percebi q ainda és do tempo em q se escrevia com ph ... (maldita pdi)

Ahh e pra quem quiser um blog, façam como eu, vão à loja dos chineses, q eles têm e em saldo, promoções de compre 2 leve 3 e ainda oferecem um mapa da china.

Anónimo disse...

Só uma precisãozita: os Vikings não descobriram a América. Foram lá, apenas.