Salamaleques
O Papa foi hoje, protocolarmente, prestar homenagem ao Mustafá Kemal “Atatürk” (ena, consegui descobrir como se põe o trema). Tinha que ir, faz parte das obrigações de quem visita a Turquia numa qualidade ilustre.
É verdade que o “Pai dos Turcos” fez o que pôde para correr com a religião da vida social e política do país, o que não é coisa que um Papa possa apreciar mesmo reconhecendo que César tem direito ao que é seu, ficando para Deus o que é de Deus.
Mas, aqui para nós, acho que os dois maganões se piscaram o olho mutuamente, divertidos, pois em certo sentido são dois bons esprits qui se rencontrent. Além de ter desancado os ingleses em Gallipoli, o que para um alemão é sempre coisa de louvar (na verdade eram australianos e neo-zelandeses, mas na altura isso era irrelevante), Mustafá dizia de Maomé o que nem este dizia do toucinho: “Não tenho nada a ver com esse cameleiro libidinoso.”
Isto não se pode dizer, a bem da correcção política. Mas apetece lembrar.
Por mim não tenho nada contra o Profeta, aviso já. Nem contra o Islão, que de um modo geral até foi mais tolerante para as outras religiões do que o Cristianismo. Cada um adora o que quer. Mas chateiam-me os relativismos culturais a todo o custo, que me querem pôr de cócoras só porque do outro lado há alminhas sensíveis, e facínoras que me querem rebentar à bomba.
O meu mundo tem podridões imensas. Mas também o “deles” tem. E não abdico de um património civilizacional que deu aos homens muito do que há de bom neste mundo – incluindo o direito de criticar esse próprio património. Sabe-me muito bem viver numa cultura que me dá o direito de pôr preservativos no nariz do Papa, e Cristo a dançar rock ou a dar quecas na Maria Madalena, se me apetecer. E que se não existisse, nem sequer tinham sido inventados os aviões que atiram contra as nossas torres, os computadores que usam para espalhar as suas mensagens e as televisões nas quais se vê o resultado disso tudo.
E se alguém achar que eu, ao falar de "eles" e "nós", estou a alinhar no Choque de Civilizações, que se lixe. Quero lá saber. Quando falo "deles" não falo do Islão. Falo dos que não vão conseguir que eu deixe de respeitar uma religião e uma cultura só porque me querem impor as medidas e os termos do meu respeito.
2 comentários:
Lá vou eu fazer eco:
Quando for grande, quero ser assim.
Estou contigo!
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