terça-feira, outubro 31, 2006

Bater na avó

Percorro o supermercado e deparo com embalagens de "Sopa da Avó." Mais adiante há variadas "receitas da avó." Há o "pão da avó", as batatas fritas "da avó", os docinhos "da avó", o raio que o parta "da avó". Tudo em embalagens a armar ao tradicional.
A "avó" tornou-se palavra mágica com a qual nos querem vender as mesmas bodegas industriais apelando a uma nostalgia dourada de um tempo de "comidinha caseira", de sabores aconchegados. Nesta era sem avós, sugestão avuncular é o D. Sebastião da nossa barriga, o Encoberto que assoma nas prateleiras do Pingo Doce trazido pelos mais diversos especialistas do plástico alimentar.
A minha avó, Deus a tenha lá na sua mesa, nem sequer cozinhava, e a minha memória dela é um odor morno a água-de-colónia e torradas que se escapava todas as manhãs do seu quarto. Tinha um braço cheio de pulseiras que tilintavam nervosamente quando nos apertava as bochechas de ternura, exclamando "Ai que riqueza!" Ou quando chamava as empregadas - naquela altura dizia-se "criadas" e não traziam sotaque brasileiro ou eslavo, mas beirão - que lhe levavam o chá ou uma omeleta que era um portento, feita pela Conceição, que vivera em França e de lá trouxera um coração despedaçado e a noção da omeleta.
Era uma obra de arte que levava mais de 20 minutos a fazer e surgia na forma de uma alongada elipse amarela, constelada de salsa, espessa e alta, que cedia à mera insinuação do garfo com um murmúrio abafado de espuma e se desfazia na boca.
Se me fizessem omeletas destas hoje em dia...
Irritam-me estas coisas de irem todos uns atrás dos outros a explorar filões. Afinal, porque é que não fazem tudo à maneira "da avó", se é tão bom e as pessoas pelos vistos gostam tanto?
Mas, na verdade, o que mais me chateia é nunca mais ter conseguido comer uma omeleta como a da Conceição.

Agora é que me chateei mesmo

"Até os defensores do SIM sabem que com a mulher viverá sempre o peso de ter praticado o aborto, ou tão somente de ter criado a situação que a levou a este acto. Este peso, a que podemos também chamar vergonha ou culpa, não se apaga com a despenalização legal."

Ter criado a situação?????
já cá faltava a culpabilização judaico-cristã, tá claro.

Coisas que me chateiam mesmo



  1. abóboras
  2. bruxas
  3. halloween
  4. gajas pintadas de bruxas
  5. o Pai Natal
  6. os enfeites de Natal
  7. pessoas que dizem "já estamos no Natal"
  8. o Alberto João Jardim
  9. a Zita Seabra
  10. aquela parva que tem a mania de se sentar no meu lugar preferido do comboio.

A ordem dos ódios varia conforme o dia me corre....

Prós e Contras

Há coisas do diabo. Ontem dei por mim a concordar com a Edite Estrela. Nem mais!
Eu, que sempre nutri uma saudável antipatia pela senhora, tive vontade de entrar pela TV dentro e esbofetear a Zita Seabra.

A senhora Zita apresentou como do argumento contra a legalização do aborto até às 10 semanas o facto de haver possibilidade de saber o sexo do bebé às 8 semanas. Segundo aquela alma iluminada, isso levaria muitas mulheres a abortar pelo simples facto de não “quererem” um bebé de determinado sexo.

É preciso ter uma mente muito retorcida para acreditar que uma mulher planeia uma gravidez para logo a seguir a interromper só porque o sexo da criança não combina com as cortinas lá de casa.
A reacção da Edite Estrela foi normal: indignou-se. Mas a Zita Seabra achou que ela “estava nervosa” por ter focado um ponto “essencial”.
Já tinha lido uma palermice destas em que citavam os casos da China e da Índia. São países que nada têm a ver com o nosso, culturas em que as filhas têm menos valor que os filhos. Acaso temos sistema de castas e ninguém me avisou???


Ps – referindo-se a uma intervenção da Odete Santos acerca de “abortos feitos em vãos de escada com agulhas de crochet”, a senhora dona Zita referiu que essa imagem é inválida porque, passo a citar, “haverá hoje em dia alguma mulher em idade fértil que saiba o que é uma agulha de crochet?”. Olhe, eu por exemplo. E até a sei usar imagine só!

quinta-feira, outubro 26, 2006

Cheias à portuguesa



Já que não se pode fazer mai nada e não....

(foto da Blogotinha)

A praga das formigas

Entro no tasco e dou de caras com um carreirinho de formigas. Mau...
Vai daí, entro no escritório/armazém/kitchenette (como raio é que isto se escreve???) e porra, nunca tal vi, o chão cinza claro está todo às bolas e riscos pretos.
Centenas, milhares, talvez mesmo milhões de formigas no meu chão a refastelarem-se com uns três ou quatro pedacitos de cereais Fitness & Fruits. Uma orgia de gula nunca vista.
Segui-lhes o rasto apenas para descobrir que estavam em todo o lado: atrás das caixas dos pijamas, dos collants, das mini-meias.... omnipresentes, nem mais.
De modos que pus açúcar no chão, esperei uma hora, deixei-as ser felizes e depois aspirei-as.
Isso mesmo, aspirei-as. Sou portanto uma assassina em série de formigas.
Dass, quando a gente pensa que já não pode descer mais....

quarta-feira, outubro 25, 2006

Muito honrado pelo convite para desabafar aqui coisas que são passíveis de nos chatear, aproveito logo para desancar no Bush. Eu sei que é uma coisa vulgar desancar no Bush, mas não resisto, porque hoje o senhor presidente de todos nós (eu sei que não votámos nele, mas a maioria dos americanos também não, pelo menos da primeira vez) disse uma coisa fantástica.
Eu enquadro:Mr. President fez hoje uma rápida resenha da situação no Iraque nos últimos três anos, citando factos que quanto a ele "foram encorajadores", e outros que não o foram.
Entre os últimos, lembrou o bombardeamento da sede da ONU em Bagdade, e esta pérola: "O facto de não termos encontrado depósitos de armas de destruição macissa".
De onde se infere que teria sido "encorajador" encontrá-las; que teria sido desejável que Saddam Hussein as tivesse. Que foi uma decepção não as encontrar.
Pelos vistos, ter armazenadas armas de destruição macissa é um facto "encorajador." Bem fazem os norte-coreanos. Bem faria o nosso Governo em lançar pelo menos um projecto de bombinha atómica nem que fosse pequenina e barata (de qualquer maneira, nunca se concretizaria, para variar, mas isso o Bush não sabe). Serviria para constituir umas equipas, umas comissões, uns (blow) jobs for the boys, e arejar alguns fundos do nosso enorme excedente orçamental. E um dia teríamos aqui a 101ª Airborne Division a tomar conta do país, o que seria um descanso.
Habilmente (?), Bush mistura os seus anseios com os da Humanidade inteira e mete tudo no mesmo saco: os revezes que todos devem lamentar, como os atentados e a morte de seres humanos, com os revezes que só ele e a sua equipa devem lamentar, como o facto de não se ter provado verdadeiro o pretexto que deu para invadir o Iraque. Está a querer que todos comunguemos da sua decepção, e só falta esperar que o mundo todo se indigne por o Saddam ser tão pérfido que nem sequer uma bombinha de mau-cheiro tinha guardada.
Disse.

a má poesia...

Se há coisa que me chateia, mas chateia mesmo, são meia dúzia de pensamentos mal alinhavados arrumadinhos em forma de poema. Este exemplar magnífico é do blog do não e pretende convencer-nos a ser contra a despenalização do aborto.

O "Não" acobardado deu lugar ao impensável,
A um sim alucinado.
Fracos de vontade,
Desistiram do caminho.

E não voltaram de onde no céu,
Em vez de estrelas brilhantes,
Flutuam diamantes imaginários.
Ou apenas um vazio sem retorno
.………………….
O "Não" é palavra de heróis,
Dito por nós.
Dito por ti…

Tantas vezes foi o “Não” que nos fez crescer…
Foi como no namoro jogado,
De adolescente,
Em que tanto treinámos a palavra,
Que se transformou em vida.

Em projecto,
Em redenção.
Que cedeu um dia,
Em entrega,
E absoluto SIM.

Amiguinhos: não é com isto que convencem ninguém, acreditem.

Exploração

O outsourcing é uma invenção genial para os empresários do têxtil.
A coisa é simples: para reduzir custos com funcionários efectivos, dá-se “obra” a pequenas unidades fabris, muitas delas com menos de dez trabalhadores, quase sempre uma família. O trabalho é pago à peça. Até aí, nada contra.


Só que esta gente descobriu um filão: os desempregados e imigrantes ilegais.
Assim, levam dezenas de peças (regra geral, calças de ganga) a casa desta gente para que eles façam determinadas tarefas em casa (poupando energia, segurança social e tal e coisa aos “empresários”).
A minha vizinha, uma brasileira, está a fazer “revista” a calças de ganga de uma conhecida marca. Corta o excesso de tecido das presilhas, as linhas das costuras, revira bolsos e assinala os defeitos. Um par de calças leva, em média, 10 a 15 minutos e ser revisto. E quanto lhe pagam? Tcharan…. 10 cêntimos o par. Nem mais. Quer isto dizer que ganha sessenta cêntimos à hora, oitenta com sorte.
As calças, essas são vendidas a cerca de oitenta euros…
Porque é que o fazem? Porque muitas vezes meia dúzia de euros são a diferença entre comer e passar fome. E estes “empresários” sabem isso muito bem.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Eu era só para pedir...


.... aos mosquitos, melgas e afins... que me deixem em paz! Mai nada!
É impressão minha ou sou a única gaja do país a precisar de se empastelar toda em Fenistil em pleno Outubro? A ter Raid Casa & Plantas ligado à parede do quarto? A ser mordida pela única melga viva da freguesia???
Eu até percebo que picar é função deles, que a minha delicada pele e sangue doce possa ter o seu encanto e tal, mas... caraças, estamos quase no Inverno!!! O país tá a ser assolado por trombas d'água e tal e eu a ser picada! Se é para isto, vou já para as Bahamas. É claro que lá também serei picada... mas a paisagem é melhorzita e posso andar todo o ano de sandálias... sem uma única bolha nos pés.... mas iiso é outra estória :)))
Já agora: alguém aí tem conhecimentos na máfia mosquitosa e melgueira??? se tiverem, eh pá, metam uma cunha por mim, tá bem???
Muito agradecida.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Eduardo Prado Coelho

bom... alguma vez teria de concordar com ele, né???

"O umbigo da Ministra da Educação deve ser tão GRANDE que não a deixa ver/ ouvir opiniões diferentes da sua. Há qualquer coisa que não está a funcionar bem no Ministério da Educação. Existe uma determinação em abstracto do que se deve fazer, mas compreensão muito escassa da realidade concreta. O que se passa com o ensino do Português e a aprendizagem dos textos literário é escandaloso. Onde deveria haver sensibilidade, finura e inteligência na compreensão da literatura, há apenas testes de resposta múltipla completamente absurdos. Assim não há literatura que resista. Há tempos, dei o exemplo da regulamentação por minutos e distâncias de determinadas provas. O ministério respondeu-me que se baseavam na mais actualizada bibliografia e que tinham tido reacções entusiásticas perante tão inovadoras medidas. Não me convenceram minimamente. Trata-se de dispositivos ridículos e hilariantes, que provocam o mais elementar bom senso.
O problema reside em considerar os professores como meros funcionários públicos e colocá-los na escola em sumária situação de bombeiros prontos para ocorrer à sineta de alarme. Mas a multiplicação de reuniões sobre tudo e mais alguma coisa não permite que o professor prossiga na sua formação científica. Quando poderá ler, quando poderá trabalhar, quando poderá actualizar-se? Não é certamente nas escolas que existem condições para isso. Embora na faculdade eu tivesse um gabinete, sempre partilhado com mais quatro ou cinco pessoas, nunca consegui ler mais do que uma página seguida. Não existem condições de concentração. Pelo caminho que as coisas estão a tomar, assistiremos a uma barbarização dos professores cada vez mais desmotivados, cuja única obssessão passa a ser defenderem-se dos insultos e dos inqualificáveis palavrões que ouvem à sua volta. A escola transforma-se num espaço de batalha campal, com o apoio da demagogia dos paizinhos, que acham sempre que os seus filhos são angelicais cabeças louras. E com a cumplicidade dos pedagogos do ministério.

Quando precisaríamos como de pão para a boca de um ensino sólido, estamos a criar uma escola tonta e insensata. Neste benemérita tarefa tem-se destacado o secretário de Estado Valter Lemos. É certo que a personagem se diz e desdiz, avança e volta atrás, a maior das facilidades. Mas o caminho para onde parece querer avançar é o de uma hostilização e incompreensão sistemática da classe dos professores. Com isto prejudica o país, e prejudica o Governo, com um primeiro-ministro determinado e competente, mas que não pode estar atento a todos os pormenores. E prejudica o PS, mas não sei se isto preocupa. Vem agora dizer que o professor deve avisar previamente que vai faltar, o que no limite significa que eu prevejo com alguns dias antecedência a dor de dentes ou a crise de fígado que vou ter. E que deve dar o plano da aula que poria em prática caso estivesse em condições. Donde, as matérias são totalmente independentes de quem as ensina, basta pegar no manual, e ala que se faz tarde. Começa a tornar-se urgente uma remodelação do Governo, mas isso é tema delicado a que voltarei mais tarde."

Eduardo Prado Coelho
(texto roubado descaradamente no Blogotinha)

terça-feira, outubro 17, 2006

E nós... pimba!


A malta que me conhece até sabe que sou uma miúda (cof cof) virada para as novas tecnologias. Sabe também que adoro certo tipo de brinquedos, quanto mais não seja pelo espanto que me suscitam.
Agora... quer dizer.... que se inventem preservativos musicais que dão música de acordo com o entusiasmo do moço de serviço... caraças, esta nem a mim lembraria!!!

segunda-feira, outubro 09, 2006


"Money talks...but all mine ever says is good-bye."

Anonymous (and broke, I guess)


Os meninos da Oni...



Estava eu aqui posta em sossego no quando me entraram dois marmanjos armados em comerciais (fatinhos Massimo Dutti e gravatinha garrida).
Até aí, tudo bem, já estou habituada...
Os meninos eram da Oni e pretendiam saber se eu tinha telefone, Internet e afins "com desconto".
Lá lhes disse que não pretendia mudar de fornecedor e... e.... um deles resolveu resolver aquilo de uma forma mais... mais... masculina.
Vai daí, não se deixa abater pela minha resposta negativa e contra-ataca: "Mas a senhora não tem um marido, um irmão ou um amigo que a costume aconselhar nestas coisas de internet e computadores com quem a gente possa falar?"

"Porquê?Acha-me demasiado estúpida para fazer um contrato?"
Que não, que o interpretei mal, que a maioria das senhoras não costuma ter muito jeito com estas coisas, apesar, claro, das excepções e... e...

Para ser honesta, não sei o que me chateou mais: se o gajo assumir que não percebo patavina de internet ou ter-me chamado "senhora" três vezes em cinco minutos.